segunda-feira, outubro 31, 2016

S

Há pessoas bonitas. Bonitas mesmo. Bonitas aqui, em qualquer lado. Bonitas aos meus olhos, aos teus, aos de quem for. Bonitas quando olhamos e queremos ver.

A S é assim. A primeira impressão (mas breve, muito breve) é de um rosto fechado, sério. Podíamos ficar por aqui. Mas o olhar -  intenso, penetrante, cheio... depressa convida à curiosidade. Olhamos melhor. Não, não é um rosto fechado. É um rosto vivido, concluímos.
Os traços são fortes. Linhas bem definidas, estreito mas largo. Sim, estreito mas largo. Rugas não tem: a vivência marcou-a de outra forma (felizmente não lhe vemos a alma que a dor quando se transmite magoa a dobrar).

Continuamos a olhar.... De repente, um sorriso - leve e breve. Como quem ri de uma criança tonta e das suas perguntas que, aos olhos de quem sabe o caminho, parecem tão absurdas. Olha para nós assim mesmo: como crianças. E nós depressa ocupamos esse lugar -o de quem quer saber. De bom grado. E com prazer.

Para ela é lógico. Para nós, inacreditável. Conhece o caminho - cada centímetro. Sabe onde fica cada pedra, adivinha onde vão parar as que tentamos tirar do trilho, achando que assim mudamos o rumo (da nossa vida???).
Mas"não", diz ela. Certa. Convicta. Absoluta: "Não".
Tiras a pedra, dás-lhe um pontapé, podes até arremessá-la para longe. Se aquela pedra fizer parte do teu caminho, depressa serás tu, sem querer, sem perceber, decidindo sem decidir, a mudar isto aqui, aquilo acolá... apenas para que tudo te leve, novamente, a tropeçar nela. "Assim é", diz.

 E assim será.

domingo, outubro 09, 2016

Não sabes

Não me sabes ler.
Dizes que sabes. Mas não.

Não me sabes ler.
Não percebes as minhas manias, os meus jeitos e trejeitos.

Não me sabes ler.
Não entendes a sobrancelha levantada que pode ser suspeita mas também ironia.

Não me sabes ler.
Não compreendes o sarcasmo que é vírgula,  reticências e ponto final em tantos dos meus comentários.

Não me sabes ler.
Não percebes porque me rio por tudo e por nada, Porque choro porque sim e porque não.

Não me sabes ler.
Percebes o que digo mas não entendes o que faço.

Não me sabes ler. 
Olhas para mim mas não me vês.

Não me sabes ler.
Não aprecias meias-palavras. Não entendes os espaços deixados em branco à mercê da imaginação.

Não me sabes ler.
Aceitas apenas o preto e o branco. Mas tanto do que acontece se passa no cinzento.

Não me sabes ler.
Podias. Mas não sabes.