terça-feira, janeiro 17, 2017

Prometo



Fechei os olhos na esperança de que a escuridão me desse descanso. Mas uma lua, cheia, branca, brilhante, nasceu no horizonte para que não me esqueça que sempre que um dia acaba outro recomeça… algures.
Fechei os olhos na esperança de que as recordações me deixassem em paz mas a memória (traiçoeira) apenas me falha quando dela preciso e agora( logo agora!) trouxe-me à lembrança tudo o que procuro esquecer.
Fechei os olhos na esperança de que me faltassem os pormenores mas em mim ficou gravado cada cheiro, cada cor, cada toque e já não sei se não é a memória mais real do que o que foi nela guardado.

Pergunto-te para quê? Porquê? Porque conservas em mim esta reminiscência que traz de arrasto a saudade e em nada me apazigua? Porque me torturas com a recordação do que já não existe em mim mas de mim não desaparece? Porque me feres com uma espera pelo que pode não ter regresso?

Não podes tu escrever a lição num papel para que eu leia? Prometo lê-lo até à exaustão. Ler, reler e ler mais uma vez. Prometo repetir uma, duas, cem, MIL vezes – as que quiseres – em voz alta até que de mim faça parte tal aprendizagem. Prometo. Mas por favor poupa-me. Poupa-me  ao reviver constante do que outrora foi presente e futuro mas que agora é… apenas… passado.


quinta-feira, janeiro 12, 2017

Aprende primeiro

Pensavas que era fácil?
Ir embora e não olhar para trás? Ficar por perto e não olhar em frente?
Nem uma coisa nem outra.

Agora estás num impasse. Numa encruzilhada. A tua primeira, calculo -  tal te poupou a vida.
Daí pensares ser fácil.

Porque é da paixão que a nasce a alegria mas também a dor. E quem não ama... pois claro, não sofre.

Agora amas. Mas não fazias ideia. Julgavas que sim. E a vida, que tanto gosta de connosco brincar, mostrou-te que não.
Bem sei que não estás habituado a aprender. Custa. Dói. Mas pela primeira vez não ditas regras. E quanto mais lutas contra o que sentes, mais te afundas na dor.

Tanta certeza, tanta segurança, tanta força. E agora? De nada valem. Porque só agora, só neste momento, estás a viver pela primeira vez: a sentir pela primeira vez.

Pensavas que era fácil...
Porque estavas dormente. Porque aquilo que consideravas que era viver era afinal... existir apenas.

Quando traçamos uma linha recta com a convicção de a seguir sem desvios... somos a vítima perfeita do destino que, curva após curva, nos conduz para longe do que tantas vezes julgámos certo e correcto.



segunda-feira, janeiro 02, 2017

Primavera

Escrevo.
Escrevo diariamente, senão a cada dois dias, no máximo. Às vezes textos longos, outras vezes frases soltas que sem me aperceber dão aos mãos entre si.
No entanto, de tudo o que escrevo pouco é o que partilho - não sei se partilhar é o termo correcto porque na verdade isso implicaria que alguém o recebesse. Talvez... assumir. Assumir é a palavra certa - de tudo o que escrevo, pouco é o que estou disposta a assumir.
Escrevo sobre o que sonho, o que vejo, sobretudo o que sinto. A alegria liberta algumas palavras mas é da dor que nascem os parágrafos.

Foi-me dito que ao escrever me aproximo da minha essência. Talvez porque permite a transposição de  sentimentos para uma dimensão... mais real, diria. Desejos, receios, alegrias, dúvidas e tristezas deixam de ser abstractos para que possam ser focados. Talvez.

Quando escrevo tenho tendência para fazer perguntas. Nem sempre lhes encontro resposta, embora saiba que qualquer pergunta, antes de nascer, encerra em si mesmo uma resposta. Nem sempre as respostas estão ao nosso alcance, da mesma forma que às vezes surgem bastante mais tarde, quase que fora de contexto - pensamos nós.

Como dizer adeus a algo que foi tão importante para nós? Como fechar uma porta que desejamos aberta - escancarada na verdade? Como? Não sei, mas faço-o.
Vou percebendo, no entanto, o porquê:  Porque esse algo tão importante não o é mais do que o respeito que temos por nós próprios. Porque essa porta aberta é como uma corrente de ar que todos os dias nos deixa doentes.
E é aí que chegam outras respostas.
Porque se eu colocar em primeiro lugar o que sou, o respeito pela minha essência, o que é importante para mim não pode ser nunca algo que me magoe. E porque às vezes é preciso abrir mão acreditando que voltará melhor e mais forte. Porque se fechar a porta nos dias de Inverno, depressa chegará a Primavera  - soalheira sem correntes de ar -  em que não só a porta como as janelas poderão estar abertas, abertas de par em par.

Aguardo pela Primavera e estou de braço esticado, com a palma da mão aberta.