segunda-feira, janeiro 02, 2017

Primavera

Escrevo.
Escrevo diariamente, senão a cada dois dias, no máximo. Às vezes textos longos, outras vezes frases soltas que sem me aperceber dão aos mãos entre si.
No entanto, de tudo o que escrevo pouco é o que partilho - não sei se partilhar é o termo correcto porque na verdade isso implicaria que alguém o recebesse. Talvez... assumir. Assumir é a palavra certa - de tudo o que escrevo, pouco é o que estou disposta a assumir.
Escrevo sobre o que sonho, o que vejo, sobretudo o que sinto. A alegria liberta algumas palavras mas é da dor que nascem os parágrafos.

Foi-me dito que ao escrever me aproximo da minha essência. Talvez porque permite a transposição de  sentimentos para uma dimensão... mais real, diria. Desejos, receios, alegrias, dúvidas e tristezas deixam de ser abstractos para que possam ser focados. Talvez.

Quando escrevo tenho tendência para fazer perguntas. Nem sempre lhes encontro resposta, embora saiba que qualquer pergunta, antes de nascer, encerra em si mesmo uma resposta. Nem sempre as respostas estão ao nosso alcance, da mesma forma que às vezes surgem bastante mais tarde, quase que fora de contexto - pensamos nós.

Como dizer adeus a algo que foi tão importante para nós? Como fechar uma porta que desejamos aberta - escancarada na verdade? Como? Não sei, mas faço-o.
Vou percebendo, no entanto, o porquê:  Porque esse algo tão importante não o é mais do que o respeito que temos por nós próprios. Porque essa porta aberta é como uma corrente de ar que todos os dias nos deixa doentes.
E é aí que chegam outras respostas.
Porque se eu colocar em primeiro lugar o que sou, o respeito pela minha essência, o que é importante para mim não pode ser nunca algo que me magoe. E porque às vezes é preciso abrir mão acreditando que voltará melhor e mais forte. Porque se fechar a porta nos dias de Inverno, depressa chegará a Primavera  - soalheira sem correntes de ar -  em que não só a porta como as janelas poderão estar abertas, abertas de par em par.

Aguardo pela Primavera e estou de braço esticado, com a palma da mão aberta.