domingo, abril 30, 2017

Somos

"As coisas vulgares que há na vida, Não deixam saudade
Só as lembranças que doem, Ou fazem sorrir

Há gente que fica na história, Da história da gente
E outras de quem nem o nome, Lembramos ouvir"




Palavras de Jorge Fernando, poema Chuva.
Quanto a mim, encerram em si muito mais do que à partida pode parecer. Encerram em si a Verdade daquilo que nos une a todos.

Quantos de nós já conhecemos alguém com quem sentimos uma ligação imediata? Quantas vezes entram pessoas nas nossas vidas, de rompante, como se dessem um pontapé na porta, entrando sem pedir licença, ocupando um espaço que pareceu estar sempre ali à sua espera?

Pode ser uma coisa tão simples como um amigo de um amigo, de um amigo, ao lado de quem ficámos sentados naquele jantar de aniversário. Ainda sem uma palavra e já há qualquer coisa que nos puxa... uma energia, um bem- estar, um à-vontade sem explicação. Como, se é apenas um desconhecido?  - Será mesmo?
O mesmo no sentido contrário. Aquela pessoa que nunca nos fez mal, com quem não tivemos nenhum desentendimento mas cuja energia nos afasta, nos causa repulsa...

A verdade é que somos energia. Pura. Forte. Essencial ao nosso ser.

Acredito que estas ligações estão para além do factor "energia" em que tendemos a procurar energias semelhantes à nossa.
Acredito que em momentos como estes, reconhecemos na pessoa à nossa frente, uma alma com quem nos cruzámos antes. E de repente, num nível de conhecimento que não dominamos e no qual não estamos habituados a operar, as nossas almas reconhecem-se e abraçam-se sem que percebamos. Vidas, percursos, histórias e aprendizagens em comum... Num segundo, recordamos tudo sem disso ter memória.

Nem sempre as pessoas com quem sentimos esta ligação ficam muito tempo na nossa vida.Isso não quer dizer, contudo, que as esqueçamos.
A intensidade do laço e do que vêm a representar na nossa vida presente nada tem a ver com tempo. Nada. Aliás, tempo é uma variável sem sentido aqui.

Estamos todos unidos. TODOS. A nossa energia individual faz parte de uma energia Global que nos une. E não importa o tempo, a distância, a fase da nossa vida... Temos a capacidade de sentir e pressentir Aquela energia.

Eu sinto a tua. Tu sentes a minha?





terça-feira, abril 25, 2017

Suspeito

Suspeito que pensas em mim, como eu penso em ti.
Suspeito que me queres, como eu te quero.
Suspeito que questionas, como eu questiono.

E do nada, a vida traz-te. E do nada, Oiço-te. E do nada transpiras tudo o que a custo tens guardado.
Não há tempo. Distância não existe. Apenas vontade. Saudade. E verdade - porque é em verdade que não calas tudo o que agora dizes.

Suspeito que duvidas, como eu duvido.
Suspeito que sonhas, como eu sonho.
Suspeito que... quiséssemos os dois, nada nos pararia.

E do nada, o nada ainda. Que o tudo... Esse...
é tudo menos fácil.

sábado, abril 22, 2017

Sentir

Quero sentir.

A alegria do recomeço. A protecção do abraço. O entusiasmo da descoberta. A curiosidade do que pode vir a ser.

Quero sentir que posso. Que sim. Que vou. Que é.

Quero sentir. A  mão, a boca, a pele.
E o movimento, o tremor… o segundo em que tudo pára.

Quero o tudo e o nada. O lento, muito lento…  e o rápido, intenso.

Quero sentir. O toque. Meigo e paciente…  de repente, forte, vigoroso e ansioso.
Quero sentir. Que tem que ser agora. Que não pode esperar. Que a pele arde e só a mão que agarra a cintura e puxa para si, apaga o fogo.

Bebo, saboreio e sinto

Um chá. Frutado e doce. Quente, muito quente, mexido com pau de canela, bebido lenta e cuidadosamente.
Um chá. Preparado ao acaso. Bebido sem fazer caso. E através da pele, podia jurar que se via, gota a gota, gole a gole, a água quente a descer pela garganta.
Um chá. Numa tarde de Primavera. A primeira naquela história, a última naquele encontro.
Um chá. Oferecido mas roubado. O copo cheio, a alma vazia. E o coração ansioso.

Um chá hoje. E depois e depois. E depois… já não.