sábado, julho 08, 2017

Oiço-te

Em cima do muro.
Não é a primeira vez que aqui estou.
Em todas elas odiei aqui estar.

Sentada, pernas caídas ora para um lado, ora para outro. Às vezes em pé, para trás e para diante, teste de equilibrista passado.

Dividida. Duvidida.
E perdida... e questionada... e incerta.

Em cima de um muro que eu própria ergui, tijolo a tijolo. Todas as pedras fui eu quem as encaixou, decisão a decisão, palavra a palavra, passo a passo.
Um muro que separa dois mundos. Ambos meus . Ambos válidos porque válidas são todas as escolhas e se julgamentos não faço, julgamentos não espero.

Um muro que cresce mais e mais a cada dia, sempre que protelo dele descer... ou para um lado ou para outro.
E se no equilíbrio teimo, certa estou que um momento de distracção me fará cair e tomar a decisão que evito -  obrigada, forçada, pelo rumo de um dos dias que vão chegando sem parar.

Balanço tomado. Descer não chega. Há que saltar. Determinada mas igualmente receosa pois sei que escolhido o terreno, perderei de vista o que ficará do lado de lá.


Vamos.
A minha intuição nunca me falhou mas eu já falhei à minha intuição.

domingo, julho 02, 2017

É Real

Quando à noite me encontras, o que fazes?

Como tocam os teus dedos no meu cabelo? Gentilmente, deslizando pelo ondeado das minhas madeixas? Ou com firmeza, segurando as raízes, puxando para trás a minha cabeça e deixando exposto o pescoço?

Como o beijas de seguida? O pescoço?
Com delicadeza, beijos suaves e boca semiaberta Ou vorazmente? Com um apetite que não conheço em mais ninguém, mordendo, arrastando os dentes pela pele que, marcada, se arrepia a cada toque?

Que me sussurras ao ouvido? Que sou tua e que mais ninguém me terá? Que depois de ti o meu corpo jamais responderá a outro toque que não o teu?


Quando à noite me encontras, desejas não acordar?
Para que viva em ti a memória que a dormir se torna, novamente, real.