Não te vejo. Defronte a ti, olhos nos olhos. Mas não te vejo.
Atravessas-me e segues até à porta. Apenas o sei porque numa fracção de segundo a sombra do que adivinho seres, deixa-se ver. Uma fracção de segundo. E pelo canto do olho.
Podia ter receio de ti. Não. Nenhum. Não sei porquê mas não tenho - Cai por terra a máxima de que receamos o que desconhecemos.
Não te vejo. Sinto-te, porém. Serias a mais presente das companhias não fosse a ausência a tua definição. Ausência de forma, de cheiro, de cor...Ausência. E no entanto, aqui estás. Ocupando um espaço que não existe.
Estás aqui todos os dias, mesmo quando a ausência é tão forte, mas tão forte, que não há fracções de segundo que te detectem. Estás também quando a vontade de me fazeres compreender algo te obriga a acordares-me - a luz forte nos olhos desperta qualquer um - e eu acordo para te ouvir. Estás ainda quando me poupas a despertares nocturnos mas povoas os meus sonhos, construindo histórias que me acompanham durante dias - bravo, conseguiste mais uma vez.
Não te vejo. Defronte a ti.
Mas sei que aqui estás.
Sem comentários:
Enviar um comentário